MAGIA

 


MAGIA

Num exercício imaginativo sempre mágico, nos propomos atuando nos dispositivos e mecanismos de sentido, criando e transformando, ritualizando.  Trouxemos como mote e pretexto aquilo que etimologicamente está no campo do in comum, imagem e magia. Os trabalhos se propuseram a transmutar aquilo que está cristalizado no âmbito do imaginário e se ativeram  a  intuir,  assim  como,  sentir-pensar  dentro-fora  do  campo  da  representação.  O  pretexto  é impregnar a experiência da desobediência que irrompe do cruzamento de imagem e magia. Magia que transborda o terreno místico e suas narrativas exaustivamente veiculadas em meio a uma cultura dividida entre a hierarquia máxima do racionalismo, do pragmatismo e do materialismo e entre os monoteísmos religiosos, a colonização da fé. Nesta cultura, comumente, a magia é compulsoriamente localizada no  terreno de  crenças que tentam dissidir do monoteísmo cristão, porém sem encontrar profundidade ou sem desobedecer às fórmulas fragmentadas ocidentais.

Magia parte da compreensão de que tudo no Mundo e na Vida se corresponde em alguma, ou múltiplas, instâncias, e que a dimensão imaterial não está diametralmente oposta à dimensão física. Manipulando materiais, forças e signos, cria-se, transmuta-se, transforma-se e atua-se na existência do presente. Num gesto  que  remonta  a  alquimia  e  a  feitiçaria  os  trabalhos  assuntaram  estratégias,  tecnologias  e procedimentos simbólicos, econômicos e jurídicos de saberes extradisciplinares capazes de fomentar, exercícios poéticos de vidências no âmbito do segredo, mistério e desconhecido. A criação é algo que excede o campo artístico e temos aqui evidenciado isso.

Inspiramos nos sonhos, em percepções não lineares nem progressivas sobre o espaço-tempo, executamos  pelo sussurro e/ou quiromancia o (re)conto de nossas histórias, tendo como ponto de partida a escuta, as  políticas  de  redistribuição  e  o  afeto em  coreografias que  habitam  os  limites que  excedem  os cercamentos.Por tudo isso, a exposição se  pretendeu enquanto  oportunidade para enfeitiçar  outras permanências, (im)possibilidades ocultas que precisam antes serem intuídas, tempos fractais, que não cabem em cronologias de sequenciamentos.

Núcleo curatorial: Adriano Braga, Andresa Moreno, Gustavo Machado e Nutyelly Cena.


VINÍCIUS FIGUEIREDO

Anatomia do Imaginário, 2018

Desenho sobre caixa de madeira.

32x32 cm


VINÍCIUS FIGUEIREDO

Anatomia do Imaginário, 2018

Desenho sobre caixa de madeira.

28x8 cm


Em seu processo criativo Vinícius Figueiredo, trata da complexa relação do homem com a natureza. Este contraste  é emoldurado por temas do imaginário, do jardim idílico, do erotismo, e dos ciclos da vida e da morte. A pesquisa do artista procura compreender como um conjunto de signos, do passado e do presente são digeridos pelo imaginário e dão origem a sua produção de desenhos e pinturas. Essa diversidade, cruzada e deglutida, que dá  forma ao corpo apresentado nos seus trabalhos. Ao se referir a ideia de corpo não há distinção entre o corpo animal  e o humano. Na série: Anatomia do Imaginário, 2018, os desenhos são realizados sobre caixas de madeira. Existe uma discussão entre os conceitos de vida, morte e  memória. O  corpo do coelho guardado na caixa, ao mesmo tempo que é uma ilustração científica, é a sua moldura e sepultura.Em seu trabalho, o artista nos conecta com a vida, ao nos lembrar através da  delicadeza dos seus desenhos, dos nossos processos de finitude. As misturas e cruzamentos, alimentam a imaginação que as processa e dão origem a um novo corpo. O cruzamento entre realidade e ficção dão origem a série (Anatomia do imaginário).


Vinícius Figueiredo.  Nasceu em Montes Claros, Minas Gerais, vive e trabalha em Goiânia, Goiás. Doutorando em Artes Visuais pela PPGAV (Programa de pós-graduação em Artes Visuais) pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Mestre em Arte e Cultura Visual pela Faculdade de Artes Visuais (FAV/UFG). Bacharel em Artes Visuais, com habilitação em Artes Plásticas pela também FAV/UFG


TOR TEIXEIRA

sem título, 2017

Acrílica sobre madeira


TOR TEIXEIRA

sem título, 2017

Acrilica sobre madeira


Natural de Palmas Tocantins, Tor desde cedo apresentou interesse pelo desenho, e com o apoio da família, aprendeu técnicas de pintura a óleo, mas adiou a carreira artística em prol da faculdade de Moda ao se mudar para Goiânia em 2011.

Ali, compreendendo como a colonização segue viva em nossas mentes e corpos, decidiu não seguir na área, mas concluindo o curso com uma coleção de estampas manuais de carimbos em busca das lacunas de sua identidade como brasileiro.

Como decorrer dos anos e das obras, sente que sua contribuição como artista homem, pardo, e bissexual para a descolonização dos nossos corpos e mentes, podia ser mais afunilada: a questão patriarcal como força motriz da colonialidade, e a necessidade de mais homens se posicionarem pela reconstrução de novos modelos do ser masculino, uma vez que o machismo, que vinha sendo empurrado para os armários, saiu deles explodindo com a eleição de um presidente assumidamente misógino, homofóbico, machista e racista. Nasce assim, a coleção ReMasculino.


RAQUEL ROCHA

Oferenda,2022

Instalação em madeira, cerâmica, pedras, farinha

e bebida.

Dimensão: 1.60 m x 2.10 m x 2.10 m


Toda cruz é uma encruzilhada, é sobre essa frase que discorro essa pesquisa artística inaugurada por esta obra. Exú está em tudo e come em todo lugar, onde ele estava no momento da cruxificação de Jesus Cristo? Se Jesus foi sacrificado em prol da salvação da humanidade, esta mensagem tem que ter sido levada para algum lugar e por alguém.


Sou artista visual, licenciada em Artes Visuais pela UFG, mulher de axé e candomblecista, tenho como área de pesquisa e atuação a afro religiosidade vinculada á Arte contemporânea e o estudo da cultura visual, pensando mecanismos de lutas e representatividades na encruzilhada de luta que se faz a partir de Ser Negra no Brasil. Caminho junto á Arte como uma linguagem insurgente de resistência que rememora aspectos silenciados dacultura negra que, marginalizada, resiste, cria e recria realidades brasileiras - Texto da artista.


LEONE DELLAVIN

Quer um girassol? 2021

Foto-performance

Nascida no estado do Pará, hoje atualmente residente em Goiânia (GO), 20 anos, graduanda em Direção de Arte pela Universidade Federal de Goiás. Modelo, dançarina, digital influêncer, desenhista e maquiadora, atuou com gestão de pessoas na agência de modelos Puig Models. Grande destaque como FEMME QUEEN na cena Ballroom Goiânia e na confecção, corte, costura e modelagem de vestuários para eventos.


Iago Araujo

Derrubamento

2022

Fotografia impressa em Tecido Oxford

80x55cm


Iago Araújo, é artista interdisciplinar, educador e produtor cultural. Possui 26 anos, cresceu em Marabá-PA e atualmente vive em Salvador-GO. Graduado em Licenciatura em Artes Cênicas, na Universidade Federal de Goiás e em Comunicação Social pela PUC-GO .
Passei por várias formações em fotografia, cinema, artes visuais, com destaque para Senac Goiás, Academia Internacional de Cinema -SP e Centro Afrocarioca Cinema RJ. Trabalha num campo de possibildiades cênicas e visuais, experimentando as potencias políticas das arte conteporâneas. São temas comuns em suas obras: decolonialidade, negritude, afetividades, culturas populares brasileiras, preservação ambiental e veganismo. Suas criações passam pela linguagens da fotografia, vídeo, poesia, objeto, performance, som e dança.
Atua também com gestão de projetos culturais desde 2014, participando também como Produtor e Curador de Festivais e Mostras com destaque para: Festival de Circo de Taquaruçu (2016 a 2019); Plataforma ACASAS (2017), ROÇAdeira - Encontros Performáticos em Lugares Improváveis (2017); Encontro Goiano de Malabares e Circo (2014 a 2019).


ROBERTA ROX

MEMORE-SI, 2020

PERFORMANCE

Memorar é relembrar, evocar, trazer à tona, revolver... Do cerrado ao mar, quantas lembranças entrelaçadas são possíveis encontrar. Como a brisa Memore-si, balança com o vento bom para respirar. Memórias em forma de tempo, de cheiros, de sensações, de respiros, de silêncios, de cuidados e de afeto. Com rosas nas mãos e raízes na cabeça, Memore-si é um convite à escuta das memórias da terra, das rosas, das conchas, das tranças... Com a permissão das águas, das ayabás, das mais velhas e das crianças, a memória pede licença para ReLembrar. Já dançou com suas lembranças hoje¿ Memória é onde tudo começa e tudo termina.


MIRNA ANAQUIRI

Yané Kérupe - nós sonhamos, 2020

Pintura sobre o terçado

Mirna Kambeba Omágua Yetê Anaquiri, pertence aos povos originários do Brasil.
É uma artista em construção, uma aprendiz das águas, das artes e da vida.
Mirna é integrante da Coletiva de Mulheres Indígenas e Negras Quilombolas, é artista visual, performer, arte educadora.É ativista do movimento indígena, que luta por uma educação antirracista


MANUELA COSTA

Conceição 

2022

32 x 9 x 9 cm 

Transbordando pelas margens que separam o sagrado e o profano, o falo e a matriz, morte e vida, a obra Conceição incorpora na serpente ereta, aberta, em posição de oratório, em contorção espiral - a síntese que permite que tais valores tornados tão opostos, dicotômicos, e hostis  na constituição do mundo cristão, ocidental, e patriarcal, possam se integrar em uníssono no corpo de uma serpente de estado sacral, desde o ânus até a coroa.

Manuela Costa Silva (1993) vive e trabalha em Goiânia, possui bacharelado em Artes Visuais pela FAV-UFG. Desde 2019 é artista residente do ateliê Sertão Negro do artista visual Dalton Paula. Em 2018 participou da coletiva “Um corpo no ar pronto para fazer barulho” pelo curador Raphael Fonseca no MAC-Goiás. Em 2022, participou do 19º Salão Nacional de Arte de Jataí, Goiás, e integrou a Residência Artística Arte Natureza II sob curadoria de Agnaldo Farias no Kaaysá Art Residency. Enquanto artista multimídia, Manuela dá protagonismo poético para o onírico e  o sobrenatural, a partir de uma leitura da contemporaneidade, atravessada pelas questões de gênero.


WALTER PIMENTEL

Fractal - Cartão Fúnebre, ano: 2023. 

Técnica óleo s/tela.  

Político

Sou Walter Pimentel, 24 anos, atualmente estudante de graduação em artes visuais bacharelado na FAV(UFG), e pintor. Em meu trabalho procuro, através da pintura, materializar o mundo invisível que rodeia o visível. Não somente espiritualmente, mas também, e sobretudo, simbolicamente, através de reminiscências, memórias, e modos de representação.


ÁLEX IGBO

Alana, 2023

Escultura em madeira de vinhático

Partindo da premissa da sacralidade das corpas trans, Alana - como é intitulada a obra - é uma guardiã espiritual e carrega o poder da transformação interior e exterior do ambiente em que é instalada. Adornada de jóias feitas com miçangas e esculpida em madeira de vinhático, a escultura traz na sua forma a magia da corpa trans apontando a dimensão ancestral de sua existência. A peça tem como finalidade trazer uma perspectiva positiva sobre a vida de pessoas trans e suas contribuições para o equilibrio do mundo. A obra foi livremente inspirada nas Akuabas - amuleto simbolizador de fertilidade, abundância e prosperidade feita pelos povos Fante, Akan e Asante. Para comunidades africanas, a espiritualidade é a força motriz do mundo, a magia de se cultivar a natureza e o caminho de reverenciar a ancestralidade a todo momento. É com toda essa potência que Alana é transmutada em obra de arte.

Natural de Salvador-BA. Graduado na Licenciatura em Desenho e Plástica pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia - UFBA, atualmente mestrando em Artes Visuais na linha de pesquisa Processos Criativos na mesma escola. Começou a percorrer as encruzilhadas artísticas em 2010, realizando pesquisas de forma independente nas áreas de arte urbana, semiótica e linguagens. Participou de exposições importantes como: Exu: Outras Faces (2013) no Museu Afro-brasileiro - MAFRO, fez intercâmbio artístico na Cidade do México (2014) através do Programa de Intercâmbio e Difusão Cultural do Ministério da Cultura - MinC, integrou a exposição coletiva Axé Bahia: A força da Arte numa metrópole Afro-brasileira (2017) no Museum Flower em Los Angeles, Califórnia, participou também da exposição Abre - Caminho no Centro Cultural São Paulo em 2020 e do Salão de Arte Contemporânea de Goiás em 2022.  Sua poetica vem do ato de sabotar, interferir e desorganizar para apontar novas possibilidades. Na  produção artistica utiliza multiplas linguagens como a gravura e o lambe-lambe, a escultura, o desenho, a escrita e o vídeo.


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