FARGO


(DESMONTAGEM)A Arte Plena – Casa Galeria, enquanto um espaço de proposição do encontro e da partilha entre artistas, curadores, pesquisadores, colecionadores e o público em geral, acredita que a arte é um campo profícuo para outros cultivos, investindo em relações mais ecológicas e, portanto, comunitárias.

 

Ao escolher atuar como catalizadora de fagulhas da transformação da paisagem social, política e cultural, ao mesmo tempo em que reitera o reconhecimento de que a arte não existe sem uma garantia social ou política, acredita que uma feira, como a FARGO, produz uma rede de operações de valores,  os quais afetam as economias materiais e simbólicas da gestão de vida.

 

Por esse motivo, o nosso desafio foi o de articular uma produção diversa sem, no entanto, reivindicar a distinção e a categorização como operações curatoriais, partindo, então, para uma metodologia que remonta aos mutirões e à recriação colaborativa.  Desse modo, o que interessa é especular sob a forma do provisório, do amadorismo e dos afetos. É a tentativa de reencenar o impróprio que é dado pelas contingências envolvidas no processo especulativo da montagem de uma mostra.

 

O interesse está na reivindicação de uma circulação de valores que atravessa outros regimes, mais dispersivos, e que estejam, por vezes, em desajuste com as dinâmicas econômicas de uma especulação, tão somente, financeira. Por isso, ao apostarmos em um conjunto de tecnologias de resistências, apostamos, também, na imaginação, enquanto compromisso com a coletivização, investindo em ecossistemas mais sustentáveis. É manter essas cenas de intimidade e mistério como criação da subsistência de mundos subjacentes irremediáveis.

 

A mostra reúne obras de artistas que derivam em diferentes gramáticas e vocabulários, inventariando uma diversidade de procedimentos no âmbito da arte contemporânea, ao operar pelos vetores do poético e das estruturas sociais. Há um traço movediço que confunde a separabilidade entre a mirada de questões sociais e políticas, e as investigações no âmbito mais formal ou poético. A partir da combinação de vários procedimentos, por vezes tidos como díspares e desconformes, o público poderá conhecer um pouco mais sobre os duplos e as heterotopias inscritas nas obras. Não há um propósito-fim de reivindicar coreografias de retidão para a promoção do natural e do cultural cindidos, mas sim de produzir a comutação de múltiplos modos de ser e de saber nessa cadeia simbólica e ecológica.

 

Objetivamos a busca por caminhos alternativos, curvilíneos, ao mesmo tempo que tangentes, em contraposição às estruturas hegemônicas e unidirecionais. Nos interessa a renúncia dessas cenas abundantes da poda vegetal e mineral. Por tudo isso, a arte, nesse sentido, insurge como procedimento de beleza e de broto, para disputar, não só, no campo das políticas de representações estratégias de denuncismo, mas também das invenções, quanto às estratégias para a dispersão e a diversidade, contrapondo-se às estruturas monoculturais que, aqui, predominam. A importância está na imaginação como ferramenta ancestral de esperança, desmantelando, a partir de percursos escapistas, as fronteiras. É  viabilizar a coexistência como forma de inventar o fora, a liberdade.

 

Adriano Braga e Gustavo Machado


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