Impulsos ao Insólito
Impulsos ao Insólito traz
à tona o resultado das perambulações de Rodrigo Flávio no Parque Macambira
Anicuns. Lá, o artista encontra vestígios de oferendas, objetos religiosos e
ícones de culto, e, sobre o que ali está depositado, se debruça poeticamente
com seu olhar.
Ele se deixa atravessar
pelas passagens do tempo em nosso corpo, um tempo que avança, se prolonga e
sempre retorna em um processo de lapidação no seu ato de evocação e criação.
Essa experiência o levou a investigar a acumulação por meio da pintura e da
especulação tridimensional, explorando as conexões entre espaço, forma e a
transformação da matéria.
As incursões por outras
linguagens é frequente no processo do pintor, no pensamento que ele acolhe no
compasso saturado de um espaço, também, em transfiguração.
Nesse exercício que
resulta de um centro conceitual simbólico, em constante movimento, Rodrigo
Flávio busca o que resta de si mesmo, um resíduo, um transbordamento de
sentidos, uma multiplicação simbólica e metafórica.
Sua pintura se dá por uma
economia do excesso barroco, que nos leva a um lugar sem nome, na deriva do
objeto, quando a linguagem já não é mais suficiente para descrever os sentidos.
Esse excesso e excrescência transitam pelo plano do mistério, originados de uma
metafísica que começa na mistura e se decanta, impulsionada pelo gesto poético
que oscila entre o sagrado e o profano, a eternidade e o instante.
Essa tensão do
incognoscível possui um caráter teatral e metalinguístico em suas criações,
evidenciando a busca por suspender a síntese imagética por meio do excesso. O
impasse surge porque há um pensamento que se autorreflete, exibindo seu próprio
movimento contraditório e sinuoso, que, em sua trajetória mais longa, nos leva
de volta ao opaco, mais inclinado às metamorfoses do mundo.
Uma escavação ocorre,
ainda que retorne ao mesmo núcleo semântico. Os objetos-pretexto da criação são
signos de acumulação e circularidade, em uma tensão entre o concreto e o
abstrato, entre a clareza e a opacidade de um referencial perdido. Isso nos remete
a algo já dito, mas que nos transporta para um início anterior ao início por
nós ,agora, desconhecido. Há uma estrutura de eco da poesia barroca, rumo ao
indeterminado, um avanço em direção ao "fora do sentido". Permanecer
subterrâneo. O inaparente é uma possibilidade para a depuração.
Impulsos do insólito,
essa tensão de uma metafísica que tudo une, começa com o pensamento sobre o
material "impuro" do qual somos feitos.
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